Tuesday 10 January 2023

A Universidade em questão

 


Após a Declaração de Bolonha, a formação superior que temos parece responder mais aos desafios económicos e políticos do que aos culturais. Será que a alternativa da universidade é a redução do ensino e do saber a critérios de eficácia? (Ler mais...)



 

Valham-nos as Humanidades


É apanágio das Humanidades, na sua tentativa de compreensão alargada de nós próprios, dos outros, e do mundo, a abertura para a pluralidade de interpretações. O que inclui o esforço de reconstituição histórica do passado para melhor se compreender o presente, mas também a tentativa de compreensão da nossa identidade pessoal e das identidades coletivas. (Ler mais...)





Gonçalo Marcelo, 

Investigador no Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos, 

Universidade de Coimbra 06 Janeiro 2023, 00:17:


Wednesday 27 April 2022

Acerca dos amanhãs cantantes do neoliberalismo

 
A Poesia está na Rua
Pintura de Vieira da Silva – 1974


Acerca dos amanhãs cantantes do         neoliberalismo

Leonardo Costa


25 de Abril

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo

Sophia de Mello Breyner Andresen, in ‘O Nome das Coisas’ – 1977

Em Portugal, cada vez que se comemora o 25 de Abril de 1974, há quem queira também comemorar, por boas razões (dá-se o benefício da dúvida), o 25 de novembro de 1975. A comemorar o 25 de Novembro de 1975, um contragolpe, considero que dever-se-iam também comemorar o 28 de Setembro de 1974 e o 11 de Março de 1975, outros dois contragolpes. É que foram estes três contragolpes que, no seu conjunto, permitiram a consolidação da democracia portuguesa. Clubes à parte, é capaz de ser mais simples ficarmos pelas comemorações do 25 de abril de 1974, o dia inicial em que a poesia esteve na rua.

Vem o acima a propósito dos amanhãs cantantes do neoliberalismo. Em democracia, os indíviduos são livres de escolherem os amanhãs cantantes que entenderem. Os amanhãs cantantes do comunismo prometiam um sol a brilhar para todos nós. Sol Enganador, as mais das vezes, à luz da experiência histórica. Já os amanhãs cantantes do neoliberalismo (que não é novo nem é liberal) prometem, no presente, uma vida às novas gerações pior do que aquela que as gerações mais velhas tiveram ou têm tido. Ou seja, no presente, o neoliberalismo nem se quer faz o esforço de ser uma utopia. É uma distopia!…

No presente o neoliberalismo nem sequer faz o esforço de ser uma utopia. É uma distopia!… 

Como afirmava a primeira ministra do Reino Unido nos anos 1980s do século XX, Margaret Thatcher (uma das grandes referências políticas do neoliberalismo), [para o neoliberalismo] não existe sociedade, apenas indivíduos. Indivíduos deixados à sua sorte, acrescento. Indivíduos que não pautam a sua atuação pelo princípio moral da simpatia de Adam Smith. Muito pelo contrário, pautam a sua atuação pelo princípio imoral da ganância, dedicando uma boa parte do seu tempo a extrair rendas à sociedade e a colocar as mesmas em paraísos fiscais.

Desde os anos 1980s do século XX, o neoliberalismo mais do que cumpriu com as suas promessas. Abandonou cada um à sua sorte, promoveu o individualismo metodológico e o princípio imoral da ganância, desregulou os mercados, em particular, os mercados financeiros, e trouxe dinâmicas de crescimento à desigualdade que colocam os países do mundo, também os países da OCDE, a caminho do antigo regime e/ou de sociedades do tipo patrimonial, não meritocráticas. Pelo caminho, gerou a crise financeira global de 2008 e, a seguir, suportou o salvamento incondicional do sistema financeiro desregulado a que deu origem, à conta do erário público. Um sistema financeiro que se posiciona algures entre o casino e o mundo do crime.

A sociedade em que vivemos, construída nos últimos quarenta anos, é um fruto das ideias neoliberais. E se a mesma está mais vulnerável a extremismos, como os da extrema direita nacionalista e xenófoba, às ideias neoliberais o deve. Por outros palavras, foi o neoliberalismo que alimentou a ascensão da extrema direita nacionalista e xenófoba em todo o mundo, ao preferir, nas suas palavras, o mercado imperfeito ao regulador perfeito, ao promover a ganância como uma coisa boa, ao fomentar a crescente desigualdade, ao colocar os indivíduos contra o Estado democrático, ao descredibilizar as instituições democráticas e do Estado, ao emprestar recursos financeiros a estas forças políticas extremistas, nacionalistas e xenófobas, por via dos paraísos fiscais que patrocinou. Foram as ideias neoliberais que colocaram as sociedades democráticas à beira do abismo. Insistir nas mesmas, é dar um passo em frente. É a receita para o desastre civilizacional.

A sociedade em que vivemos (…) é um fruto das ideias neoliberais. E se a mesma está mais vulnerável a extremismos, como os da extrema direita nacionalista e xenófoba, às ideias neoliberais o deve.

É assim necessário meter o neoliberalismo na gaveta, em nome da preservação de uma sociedade democrática e/ou civilizada. É preciso voltar a colocar as pessoas comuns no centro dos debates e dos projetos políticos. É urgente recuperar e repensar as nossas sociedades, com novas e renovadas ideias políticas (algumas da social democracia, outras da própria doutrina social da Igreja). É fundamental falar com as pessoas comuns e tornar as mesmas agentes políticos ativos do seu destino, individual e coletivo, em vez de meros espectadores das suas vidas, mais ou menos vulneráveis aos caprichos e manipulações de certas elites (políticas e económicas) sem escrúpulos. Territorialmente, é preciso reorganizar o Estado (europeu, nacional, regional e municipal) de maneira a exercer o princípio da subsidariedade até ao limite das possibilidades que o mesmo oferece. Por outras palavras, é necessário aprofundar a democracia, representativa e participativa.

É assim necessário meter o neoliberalismo na gaveta, em nome da preservação de uma sociedade democrática e/ou civilizada. (…).

Leonardo Costa

Docente e investigador da Universidade Católica Portuguesa

Porto 26 de Abril de 2022.





Thursday 21 April 2022

Ciclo de Webinares 20AnosAP@UP - Webinar#4 - The Social Role of Green Spaces

17.30 às 19:00,  irá decorrer o quarto webinar do Ciclo de Webinares 20anosAP@UP, entitulado 

The Social Role of Green Spaces. Os oradores serão o professor Robert Ryan (Universidade de Massachusetts, Amherst) e o professor Rudi van Etteger (Wageningen University and Research), que nos irão apresentar a sua perspectiva sobre o papel que os espaços verdes desempenham na construção de uma sociedade mais justa, mais igualitária, mais saudável, e mais livre.
Em nome da organização dos 20anosAP@UP, venho convidar-vos para se juntarem a nós e participarem neste debate através do seguinte link