Inventar novos
modos de habitar a Terra
Para vivermos no planeta Terra, precisamos de oxigénio e de uma determinada
temperatura. Com o aquecimento do planeta devido sobretudo à exploração massiva
que temos feito dele as alterações climáticas estão aí e o aquecimento
progressivo do planeta é uma constante. A questão que se coloca a partir de
agora, não é tanto, uma questão de tempo, mas de espaço: Onde vamos viver? Esta
é a questão fundamental a que temos de dar resposta. Aquilo que está hoje em causa,
não é pensarmos o futuro, mas pensarmos o presente que está efectivamente
ameaçado. A questão não é entre pessimismo e optimismo, mas de nos
consciencializarmos sobre uma nova situação, e não perder a esperança nem tempo,
com negacionismos ou utopias mercantilistas. Aquilo que estamos a viver não é uma
crise, mas uma situação totalmente nova, e em grande parte irreversível.
O paradoxo das nossas sociedades mais ricas é que ao mesmo tempo que
atingimos um certo bem-estar, sobretudo material, fomos atingidos por situações
constantes de perda. Nas condições climáticas que vivemos hoje as perguntas são
várias: o que vamos ensinar aos nossos filhos? Será que os nossos filhos vão
ter as mesmas condições de vida que nós? Será que irão ter uma reforma? Esta
inquietação e perda ultrapassa o ser humano. Os insectos desaparecem e os
glaciares estão a derreter velozmente. Como absorver este choque? O que é que
isto nos faz psicologicamente? Estamos a viver uma situação única na história
da Terra. A história da Terra e a história humana estão em rota de colisão e essa
é uma das razões para os desnorteamentos políticos, à esquerda e à direita. A
direita vive obcecada pelas questões identitárias étnicas e mesmo raciais, a
esquerda com a Rebelião da Extinção. Aquilo que acontece é que não dispomos de equipamento
cognitivo para absorver o facto das nossas acções conduzirem a reacções muito
rápidas da Terra. E uma das razões para esta falta de equipamento cognitivo
deve-se ao facto de, sobretudo a partir da revolução industrial, acharmos que o
ser humano era o único ser a agir no planeta. O “cordão umbilical” cortou-se
com a Terra e a nossa ilusória autonomia está a conduzir-nos para um beco que
esperamos que venha a ter saída e não será certamente, através da colonização
de outros planetas, já devíamos ter aprendido a lição das colonizações que mais
não são do que subjugação de uns à custa de outros.
Temos de ser capazes de agir em todas as escalas e isso cria a imensa
desorientação que vivemos. A organização política do Estado-nação, não está
adaptada para absorver as condições terrestres. É uma abstração total incapaz
de absorver as múltiplas escalas onde se jogam os interesses não humanos, que
tal como estamos a ver nesta situação de COVID não dominamos e são na maioria
dos casos imprevisíveis.
Os países ricos não têm a noção da guerra que se está a desenrolar, porque é uma guerra sem frente. Os Estados Unidos estão numa lógica de separação, retiraram-se arrogantemente dos acordos de Paris sem perceberem que as suas emissões de CO2 afectam todos.A situação que vivemos hoje é mais dramática do que as precedentes, porque invisível, sobretudo porque os actores implicados são em grande parte não humanos. A questão que já estamos a viver hoje e em relação à qual Greta Thunberg não deixa de bradar, à maneira dos profetas que não clamavam pelo futuro, mas denunciavam o presente, é impossível ser humano num “mau” espaço. É tempo de colocarmos os pés na terra e enfrentamos o problema e percebermos que temos de renunciar ao projecto da modernidade que conduzirá inevitavelmente ao fim da civilização tal como a conhecemos e inventarmos novos modos de habitar. É isso que nos está a custar aceitar ainda mais num tempo em que dispomos de um arsenal tecnológico nunca visto e que em certa medida não resolve o problema, mas agrava-o.
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