Wednesday, 29 April 2020



Desaceleração – o caminho da esperança

O sociólogo e filósofo alemão Hartmut Rosa, autor de várias obras, como Alienation and Acceleration: Towards a Critical Theory of Late-Modern Temporality ou ainda, Resonance A Sociology of Our Relationship to the World  num artigo recente que escreveu num jornal alemão considera, que a desaceleração do mundo nestes tempos de pandemia não é uma fantasia, e que a política pode controlar a economia e por isso mesmo temos uma oportunidade única de mudar o nosso modelo social. É uma ocasião sem precedentes e  cheia de esperança.

Na crise do coronavírus, a confusão e as diferenças de interpretação são consideráveis. Se não nos fixarmos apenas, no inumerável sofrimento humano causado pelo vírus - assim como nos riscos políticos, económicos e sociais que resultam dele - e adoptarmos uma postura mais critica e teórica, alguns factos surgem-nos com grande força.

Primeiro: no mundo do movimento físico e material, incluindo especificamente o da produção e circulação, observamos, em certos casos, uma redução de mais de 80% do tráfego. Os sectores da cultura e da educação também estão quase completamente congelados em muitos países. A desaceleração é, portanto, no momento um facto macrossocial e não uma fantasia nostálgica e retrógrada, como afirmam muitos dos críticos dessa ideia.

Segundo: essa desaceleração é o resultado de uma ação política - geralmente realizada por governos eleitos democraticamente - e não o efeito directo do vírus. É uma experiência da eficiência autónoma da política: em poucas semanas, a política mobilizou uma capacidade de acção sem precedentes contra a lógica dos mercados financeiros, contra grandes grupos, contra os interesses das empresas - mas também contra os direitos dos cidadãos. Essa experiência contrasta fortemente com a que havia prevalecido até então: impotência em relação à crise climática, mas também em relação às desigualdades na distribuição da riqueza. A hipótese de que a política, que deveria ter primazia normativa, não possa fazer mais nada em relação à lógica da diferenciação funcional é simplesmente falsa.

Terceiro: na "situação normal", as sociedades operam sob o princípio da "dependência do trilho batido". Quando agimos, seguimos cadeias bem estabelecidas de interação e procedimentos. Em quase todas as áreas, existem regras e rotinas estabelecidas. Quanto mais complexa é uma sociedade, mais difícil, arriscado e perigoso é, desviar-se desse caminho. Hoje, no entanto, grande parte desses procedimentos são interrompidos, e as nossas rotinas são dificultadas, as engrenagens estão bloqueadas. 
Estamos diante de uma situação histórica excepcional, que ocorre raramente. Valia a pena abraçá-la com todas as nossas forças no caminho de uma maior ressonância com o mundo em que vivemos. Como esta pandemia nos está a mostrar à exaustão, não somos os únicos seres a agir neste planeta, por isso o caminho não deveria ser o mesmo que nos fez chegar até aqui. 

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