Tuesday, 22 October 2019

Habitar a Terra: Vida Sustentável
 
Foi sobretudo a partir de 1987 com o Relatório de Brundtland, publicado pela Comissão Mundial para o Ambiente e o Desenvolvimento das Nações Unidas que a noção de desenvolvimento sustentável entra de forma definitiva nos discursos políticos e nos debates académicos. Contudo, quando analisamos o relatório aquilo que verificamos é que o modelo de desenvolvimento que propõe é eminentemente antropocêntrico. Este modelo assenta no pressuposto de que com os avanços científicos/tecnológicos podemos trabalhar a natureza a fim de que ela não só nos proporcione mais bem-estar material, nomeadamente aos Países Desenvolvidos, como também resolva as necessidades dos Países em Vias de Desenvolvimento. Deste modo, apesar do Relatório apontar para a existência de limites ecológicos há contudo, a convicção de que com a ajuda da ciência e da tecnologia estamos não só aptos a conseguir reduzir o desperdício, como a encontrar substitutos para o problema da escassez e assim, garantir o crescimento quer para o presente quer para o futuro.
De acordo com esta perspetiva antropocêntrica, a biodiversidade, os ecossistemas os grandes ciclos bioquímicos e hidrológicos só têm valor enquanto nos trazem algum benefício, mas não valem por si. Nesse sentido é possível estabelecer uma diferença entre sustentabilidade ecológica e uma sustentabilidade eco social que é aquela que o Relatório propõe.
A sustentabilidade eco social assenta na manipulação dos ecossistemas para a satisfação dos nossos interesses e desejos imediatos. Um processo integrado de sustentabilidade é muito mais do que uma sustentabilidade eco social, é uma sustentabilidade que vai muito para além do desenvolvimento entendido meramente sob a perspetiva económica e de curto prazo. Desenvolver não pode significar contorcer e contrariar a natureza para nosso proveito, mas sim, orientá-la para as suas potencialidades máximas dentro de um horizonte sempre mais alargado de relações. Tal como nos diz Cerqueira Gonçalves: “ O que está essencialmente em causa é a continuação duma vida sadia, de toda a vida, não apenas a de características humanas, sobre o planeta.”
A sustentabilidade ecológica aponta para um esforço concreto, no sentido de um pensamento mais sistémico, na medida em que o cosmo é visto como uma harmonia viva entre a unidade e as diferenças, mapeadas através de variados e complexos ecossistemas, em que aquilo que é privilegiado é a relação entre todos os componentes e elementos, de maneira a que nenhum deles anule os outros, mas pelo contrário, cada um contribua para a vida de todos. Este será o caminho daquilo a que o Papa Francisco chama na encíclica Laudato Si de uma ecologia integral, porque não podemos esquecer as gerações futuras pelas quais também somos responsáveis pois “a terra que recebemos pertence também àqueles que hão-de vir.” (LS 159).

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