Friday, 29 March 2019

 
As opções que a cultura ociedental foi fazendo ao longo da sua história, e na maior parte das vezes, justificada por um certo tipo de racionalidade fez com que se tivesse esvaziado o conteúdo qualitativo dos seres. A natureza tal como é apreciada pelo Relatório de Brundtland é vista sempre em função daquilo que nos pode dar, desvalorizando ou pura e simplesmente neglegenciando o seu valor intrínseco. Subjacente a este "materialismo utilitarista" está a convição de que o ser humano ocupa o topo da pirâmide evolutiva, auferindo de uma supremacia que o coloca numa posição superior em relação aos outros seres. Mas esta convição tem raízes culturais bem marcadas centrada na ideia de natureza (humana).
Com a ideia de natureza articula-se o esquema das espécies e nele a autonomia de cada espécie e a exaltação da diferença específica de cada uma, o que na prática significa a subordinação das espécies consideradas inferiores às superiores. Este contraste entre as diferenças específicas acaba por colocar o ser humano no centro do universo, ficando as diferenças sem garantia de uma verdadeira unidade.
Contudo, o que dá valor ao humano é o ser e não a sua natureza. É na experiência da acção que adquirimos aquilo que se pode denominar por sabedoria ontológica que consiste no desenvolvimento e na afirmação do valor da realidade e não apenas no valor da existência. Nesse sentido, aquilo que se reclama de  ser humano, é uma atitude de fidelidade a esse ímpeto de ser e não apenas ao perímetro do meramente antropológico. É uma experiência de unidade e de unificação diferenciante - parte de representações dadas, mas abre-se de forma renovada a novas manifestações e possibilidades.
Deste modo, é uma experiência que nos coloca a todos em relação - porque a base é ontológica e não antropológica. Não nos encontramos em relação com os outros seres como se de "alter egos" se tratassem, mas como seres, que também eles são, tal como nós, manifestações diferenciadas e diferenciantes do mesmo ser em que todos comungamos.
O nosso futuro comum passa pela comunidade e pela comunhão em que aquilo que há-de contar tem de ser a cooperação e não a competição sem regras, colocando menos peso na obtenção de bens externos e desenvolvendo e valorizando cada vez mais os bens internos. Mais do que procurar um Desenvovimento Sustentável, importa ir mais longe e construir uma Vida Sustentável, tal como é referido na Carta da Terra: "Que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma reverência face à vida, por um compromisso firme de alcançar a sustentabilidade, pela rápida luta pela justiça e pela paz e pela alegre celebração da vida." O caminho a seguir terá de passar forçosamente, quer queriramos quer não, pela adopção de um tipo de vida mais frugal e com impactos menos negativos nos ecossitemas. Sem esse esforço uma vida sadia na terra fica seriamente compriometida e a vida sustentável ver-se-á ameaçada.
 

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